PORQUE ASTRONAUTA 23?
Moro no último andar
de um prédio de cinco andares que tem um apartamento por andar. Já faz muitos
anos que mudei para este apartamento. Toda vez que entro ou saio deste prédio,
passo pelos quatro andares abaixo do meu. Todos são identificados por números bem
grandes. Todos os andares tem uma porta de acesso a um pequeno corredor onde
estão as portas para entrar no apartamento. O que faz deste pequeno corredor,
parte do apartamento também, se você deixar a porta de acesso a ele fechada. Interessante
que nesses anos todos que moro aqui, eu nunca vi a porta do terceiro andar
aberta, também nunca vi, nem soube que tivesse algum morador neste andar.
Nesses anos todos, ele sempre esteve fechado. Nunca me preocupei com isso até o
dia em que olhando este prédio onde moro de fora, vi que ele tinha apenas
quatro andares. Isso mesmo, do lado de fora são quatro andares, mas de dentro
são cinco andares. Achei aquilo tão intrigante que sempre ao sair de casa fazia
questão de conferir se eram mesmo cinco apartamentos. Até que um dia, voltando
para meu apartamento, ao chegar ao terceiro andar, vi a porta aberta pela
primeira vez depois de anos. Quando fui me aproximando, vi ali próxima a porta,
de lado de dentro, no pequeno corredor, uma garotinha sorrindo pra mim. Esta
garotinha deveria ter uns dois anos no máximo. Vestia um macacão alaranjado de
astronauta. Idêntico aos macacões que os astronautas da Nasa usam quando estão
fazendo simulações. Esta garotinha me olhava e sorria e então eu disse: ei
garotinha! No que ela me respondeu: Aidí, e estendeu os braços para que eu a
pegasse no colo. Perguntei a ela onde estava a mamãe, mas ela continuava a
sorrir, de braços estendidos e dizendo: Aidí. Me aproximei desta garotinha e
pude ver que ali naquele terceiro andar só tinha o pequeno corredor, não havia
portas para entrar no apartamento. Fiquei pensando de onde teria vindo aquela
garotinha, como ela tinha chegado até ali e quem seria ela. A gotinha
continuava com os braços estendidos para que eu a pegasse, e sempre sorrindo
dizia: Aidí. Neste prédio onde eu moro, nos outros andares moram pessoas da
mesma família. A mãe no primeiro andar e os filhos no segundo e quarto andar.
Eu costumo dizer que sou o “estranho no ninho”. E nenhum deles tem criança
pequena, só mora o casal. Então, peguei esta criança no colo, que apontou com o
dedo as escadas que leva até meu apartamento, dizendo: Aidí. Fui com a
garotinha até meu apartamento e, ao colocá-la no chão, vi que seu uniforme de
astronauta tinha um número escrito na parte de trás. Este número era: 23. Desde
então eu chamo esta garotinha de Astronauta 23. Depois que a Astronauta 23 veio
para minha casa, quando saio de casa sozinho, passo pelo terceiro andar e a
porta está lá, fechada, como sempre esteve. Mas se sair do apartamento levando
a Astronauta 23, quando passo pelo terceiro andar acontece algo muito
intrigante. Algo meio que sem sentido nem explicação. Mas só quando estou
saindo com a Astronauta 23. Se estiver voltando pra casa com ela, nada
acontece. Continua.....
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